segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Que mundo Vucah, que nada

 Se este texto fosse um tecido, seria um patchwork - não é meu. É um "juntado de retalhos", um compilado de diversos outros tão interessantes que não conseguiria reescrever sob minha ótica. Assim, recortei o melhor de cada um pra trazer pra vocês.

E começo com uma frase que também não é minha (tá, eu sei), mas é muito pertinente: "é importante refletir sobre a dinâmica que cerca a vida de todos nós, meros passageiros temporários deste mundo em constante evolução." Isto porque nem bem fui apresentada ao mundo VUCAH - que, como percebem, ganhou um H de Hiperconectado, começo a semana lendo um artigo do Linkedin que o classifica como obsoleto.

"Substituído" por um mundo BANI - do acrônimo em inglês de BittleAnxiousNonlinear e Incomprehensible.


Segundo o futurologista Jamais Cascio, criador do termo, mundo BANI é a evolução do mundo VUCAH - em um mundo cada vez mais conectado, suas proporções se tornaram incontroláveis. E assim, obsoleto e insuficiente para descrever toda a aceleração de cenário e transformações que vivemos a cada segundo.


Viver num mundo hiperconectado faz com que fragilidades antes limitadas regionalmente repercutam por todo o planeta - vide o coronavírus. No dia a dia este risco se reflete na segurança alimentar, em empregos que podem ser perdidos do dia para a noite, em empresas que podem ruir a qualquer momento e em mudanças na lógica de mercado.


Neste panorama somos obrigados a entender que os impactos da velocidade e da volatilidade das coisas não estão em nossas mãos - há um mundo novo a nossa volta, e temos que encarar que nele ainda existem muitas coisas incompreensíveis.


Mas pergunto: existe, mesmo, uma diferença conceitual de um mundo "incompreensível" e "não linear" para um mundo "ambíguo" e "complexo"? O mundo é "ansioso" e "frágil" ou ele gera "ansiedade e fragilidade" por conta das "incertezas" e "volatilidade" dos acontecimentos?


O conceito mundo BANI passou a ser utilizado intensamente em 2020 tentando descrever a cena mundial atual, onde vivenciamos a necessidade de não perder o ritmo do trabalho, do estudo e da expansão do conhecimento, somado à limitação física de contato, num cenário de incertezas trazido pela Covid. Segundo Jamais, é como uma lente para entender o que está acontecendo no mundo e trazer respostas sobre como agir.


"Não é uma simples instabilidade, é uma realidade que parece resistir aos esforços para entender o que diabos está acontecendo. Este momento atual de caos político, desastres climáticos e pandemia global demonstra a necessidade de uma forma de dar sentido ao mundo, de um novo método ou ferramenta para entender as formas que essa era de caos tomará. Os métodos que desenvolvemos ao longo dos anos para reconhecer e responder às interrupções comuns são cada vez mais inadequados quando o mundo parece desmoronar."


Neste sentido urge ressignificar nosso entendimento sobre este mundo em que vivemos.


O futurologista explica que a fragilidade pode ser enfrentada através de resiliência e liberdade; a ansiedade pode ser aliviada por empatia e atenção plena; a não-linearidade necessitaria de contexto e flexibilidade; a incompreensibilidade pede transparência e intuição. Tudo isto pode não ser solução, e sim reação, mas sugere a probabilidade de se encontrar respostas.


Além destas características listadas por ele como necessárias para enfrentar os desafios trazidos pelo mundo BANI, a professora Paula Costa, da ESPM, destaca o propósito e a humanização; "Entre hoje e amanh]ao podemos precisar mudar tudo completamente... Mas nossa essência, aquele famoso motivo para acordarmos todos os dias, precisa estar muito clara. Também precisamos nos apegar às características que nos tornam humanos, como o autoconhecimento, a sensibiliade, o poder de conexão - até como um contraponto a essa acelerada digitalização."


Ela acredita que a ansiedade trazida pelo mundo BANI pode ser um estímulo para a ação e a queda de modelos que já não fazem mais sentido. "Com toda a desestruturação que o BANI causa, ele abre a oportunidade de a sociedade revisar suas estruturas que estão falidas e criar um mundo novo." Ela acredita ainda que o mundo BANI também traz um princípio de maior igualdade; "Ninguém está em vantagem em um cenário de mudanças constantes, em que todo mundo precisa aprender a reagir e a viver de forma diferente todos os dias".

 

"Não necessariamente o mais forte ou o mais poderoso vai ter a resposta, mas aquele que estiver mais antenado em todos esses movimentos do BANI."



Qual será a próxima terminologia para classificar o mundo?

O termo VUCA foi criado na década de 1980, mas só ganhou repercussão nos anos dois mil. O BANI, por sua vez, surgiu em 2018 e foi disseminado em 2020. Assim, há lógica em se questionar se já não existe um outro conceito em construção para o que está por vir. "Podemos ainda não ter um novo termo, mas a mudança não vai parar por aqui. Tem muita gente vivendo a pandemia como se fosse uma fenda no tempo, como se todo esse cenário fosse terminar da noite para o dia junto com a vacina. É muito importante entender que esses movimentos que a pandemia acelerou não tem mais volta."

 

Referências:

Facing the Age of Chaos“, artigo original de Jamais Cascio, criador do termo BANI.

https://www.projetodraft.com/verbete-draft-o-que-e-mundo-bani/

https://www.whow.com.br/global-trends/voce-conhece-o-mundo-bani/

https://www.revistaebs.com.br/artigos/do-mundo-vuca-para-o-mundo-bani/

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Reestruturação

Estou cronista semanal, às terças (e só agora me dei conta de como isto, para mim, é simbólico) num blog interno da empresa.

Não importa o que eu tivesse planejado escrever esta semana: diante das impactantes notícias de reestruturação divulgadas na segunda-feira (que não, ainda nem entendi bem), não ia rolar.

Pensei com meus botões que não poderia ignorá-las.

Escolhi falar sobre algo que gosto muito, palavras. E seus significados.

Abracei algumas que, via de regra, são vistas como negativas - mas que eu, particularmente, considero positivas.

Ca.os. sm*

1. Estado em que predominam a confusão e o desequilíbrio totais; babel, barafunda, desordem.

2. Nas narrativas e teorias cosmogônicas e nas mitologias que antecedem o surgimento da filosofia, vazio primordial que teria precedido a criação do Universo.

Percebe que coisa linda? Não, não estou negando a confusão ou o desequilíbrio, meu povo. Ou o medo que ele traz.

Apenas lembro que é a circunstância que possibilita o novo - e renovar/inovar é preciso, sempre.

A Vida é feita de renovação, inovação, reinvenção. Por vezes, inspiração.


Crise. sf*

1. Conjuntura desfavorável; situação anormal e grave; conflito, tensão, transtorno.

2. Momento em que se deve decidir se um assunto ou o seguimento de uma ação deve ser levado adiante, alterado ou interrompido; momento crítico ou decisivo.

De novo, ói: um significado ruim sucedido por um bom. Sim, é bom, sim. Ponto.

Decisões fazem parte do dia a dia.

A gente decide procrastinar ou não pra levantar da cama; o que comer no café da manhã; que roupa usar para sair; adotar ou não o hábito de escovar os dentes, usar hidratante e protetor solar; fumar; consumir carne; enfim… decisão faz parte da nossa Vida.

Todo dia, todo santo dia.

Da mesma forma decidimos também como encarar desde os pequenos dilemas cotidianos até as maiores adversidades e intempéries.

E nosso caminho e nosso destino, PSOa, é resultado dessas escolhas - desde a mínima até a mais descomunal.

Cada decisão tem sua consequência. Claro, não se pode negar a casualidade, as oportunidades, o imponderável - mas são circunstanciais.


Muvuca. sf*

1. Manifestação ruidosa e agitada; confusão, tumulto.

2. Aglomeração barulhenta de pessoas em locais públicos, em momentos de lazer; agito, ouriço.

Só apareceu aqui porque lembra a expressão que quero, de verdade, abordar: V.U.C.A. Mundo V.U.C.A..

Pode ser resumido como MU.V.U.C.A., pode não?

Pois.

O termo VUCA não é novidade: foi criado na década de 90, no cenário pós-guerra fria.

Surgiu do acrônimo das palavras Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity. Representa as características do mundo que vivemos hoje.

O MU.V.U.C.A. é parte da nossa realidade. Sabendo ou não o que significa, cada um de nós faz parte dele. Vamos entender cada palavra?


Volatilidade: surge da velocidade das mudanças no mundo empresarial. É preciso ter um mindset ágil, para contornar/se adequar/se preparar para estas mudanças.

Incerteza: surge da própria volatilidade. Se tudo muda o tempo todo, é cada vez mais difícil prever os resultados futuros, mesmo quando existem muitos dados a disposição.

Complexidade: surge por conta da conectividade e interdependência de todos os fatores. Uma única ação, pode ter enormes consequências.

Ambiguidade: significa que é difícil se planejar, por conta de uma falta de clareza e de uma relação direta entre certas características.

Ou seja, precisamos entender que o pensamento linear, quadrado, perfeccionista e altamente detalhado não cabe em muitos dos cenários que vivemos hoje. Olhando para o futuro a tendência é que isso aumente mais ainda.


Mas ahhhhh!!!! Arrá!!!!


O que eu não sabia e aposto que você também não, é que "Muvuca" tem outro conceito muito interessante, usado no meio rural e ambiental: "técnica de misturar sementes que ajuda a recuperar áreas degradadas".

Saberes dos povos indígenas, coisa mais linda!

Recuperar áreas degradadas.

Recuperar. Reviver. Renascer.


Confesso, PSOa: ando meio cansada do excesso de informações, da rapidez das mudanças, do cenário que se apresenta.

Só que né? Isto é fruto do desenvolvimento e da tecnologia - não vai regredir.

E não há o que eu possa fazer para mudar esta realidade a não ser mudar meu olhar, minha perspectiva, minha atitude.

Aprendi que dar murro em ponta de faca dói muito e, maioria das vezes, a faca permanece intacta enquanto minha mão se dilacera. Não faço mais.


Pra terminar quero deixar uma citação da "California Academy of Sciences" que, aposto, você acha que é do nosso ChefoMor, tanto ele cita:


"Quem sobrevive não é o mais forte das espécies, nem o mais inteligente. Quem sobrevive é aquele que melhor reage às mudanças."


Boralá, juntos, sobreviver?

sábado, 15 de agosto de 2020

Despedida

 "É muito a cara dela mesmo, morrer num sábado de carnaval!"

 Manu abraçou Cloé, que não parava de resmungar, “esta nigrinha, olha o trabalho que dá, me largar da Gamboa pra Salvador neste inferno! Só Lu mesmo. Lu morreu, Manu, Lu morreu.”
Os olhos estavam secos, não chorava. A cada conhecido repetia a ladainha, “esta nigrinha, olha o trabalho que me dá...”
Carlotinha logo lhe deu um sacode: “para de reclamar, mulher, que ela morreu como gostava, na folia. Certeza, tá melhor que a gente! Bora beber a isto, bora beber a ela!”
“Boralá, que Lu não ia querer ver a gente triste”, concordou Manu, com aceno de anuência da geral.
Letícia foi até o carro, “Vini, alguém tem que providenciar bebida, o velório dela não pode ser a seco.”
Vinícius, que aguentava os porres da mãe e de Lu desde pequeno, tinha os olhos inchados. Gostava dela, aquela maluca que brigava com ele na mesma medida que conversava e dava colo. Raulzito, do banco do passageiro, ainda sem acreditar no acontecido, concordou, “boralá buscar alguma coisa pra galera”.
De vez em quando chegava o som da folia ao longe, na esteira dos carros de foliões a caminho da avenida. A vida continuava. O carnaval continuava. A alegria tinha que continuar. 


Para quem, como a defunta, se mudava a cada dois ou três anos, até que havia muita gente ali. Seus amigos estavam espalhados por este mundão véi sem fronteiras. Passou por tantos lugares, cidades, estados. Em cada um cultivou amigos, mas quem é que tem tempo e dinheiro pra se abalar assim, de repente, pra Salvador? Em pleno carnaval?
A família mais próxima - mãe, irmãos e filhos - estava a caminho. A dificuldade de voos para Salvador, enorme. Sandro, primeiro a chegar, veio de São Paulo, onde as passagens eram mais fáceis. Abraçou Cloé, que recomeçou a ladainha. Juntou sua voz à dela, “é uma biscate, Cloé. Paulinha nasceu no natal, Maya na páscoa, Matheus num sábado à noite, só podia morrer num carnaval.”
Olhou o corpo inerte no caixão. Parecia feliz mesmo na morte, sua irmã.
Sentiu-se perdido. Cloé e Odilon, que não estava, únicos conhecidos dentre os amigos de Salvador. Aos poucos,  identificando-o irmão – tanto pela semelhança quanto pelas histórias que ouviram dela, se aproximaram. “Meus pêsames”, as palavras soavam estranhas, “meus pêsames por sua perda”. Perda? Não, não era. Ela sempre estaria com ele quando se olhasse no espelho, assim como o pai que havia partido antes, deixando a inquestionável herança genética.

Pouco a pouco chegaram os outros, todos com o rosto deformado pelo choro, agora pausado. Cada um com sua dor individual pelo choque com a morte inesperada. Os filhos, nenhum foi direto para o caixão. Adiavam o momento de olhar aquela que, no seu imaginário, era imortal.
Paulinha abraçou Cloé, Maya e Matheus envolveram o tio. Uníssono, desabaram em lágrimas silenciosas, contínuas, com suspiros esparsos.
A voz inconfundível da avó anunciou sua chegava com os tios mais novos, Wan e Tati. No abraço familiar o choro parou, a preocupação com os do coração, “Vó, cê tá bem? Tio, foi boa a viagem? Tati, vieram direto do aeroporto?”
Juntos, depois de palavras banais jamais lembradas, se aproximaram do caixão. Olhando o corpo sem vida, que parecia sereno, a mãe estendeu a mão, “minha filhinha querida, isto não tá certo, um filho partir antes dos pais, não tá certo, por que você se foi?” Ninguém mais falou. Se abraçaram de novo, os sete, em volta do caixão, num tempo que parecia interminável, de palavras desnecessárias e dor pungente. 


Aos poucos os amigos se aproximaram, compartindo abraços e vazio e silêncio.
Foi neste silêncio que os acordes da música começaram, Ivete cantando, “ah, que bom você chegou, bem-vindo a Salvador…”
Carol, com a música no maior volume do celular, chegou botando ordem, “eita, que clima é este? Eu tô no velório certo? É o velório de Lucemary Maria este aqui? Porque se é, a porra tá toda errada! Boralá beber esta defunta como se deve!!!!!"
Paulinha olhou os irmãos e a tia, não se surpreenderam. Tati reconheceu, "tá certa a doida que chegou."
Não conheciam Anna Carolina, mas sabiam da mãe – que certamente, não queria sua despedida com tristeza. Sorriram. A avó e os tios, em concordância tácita, sorriram também. Todos a sabiam.


Uma coisa que a morta amava era música, mesmo que não tivesse ouvidos musicais. Ainda que não conseguisse jamais entoar uma canção inteira sem errar a letra ou desafinar – isto quando não emperrava num mesmo refrão por horas e horas.
Outra coisa que todos sabiam era que Lu era essencialmente otimista. Amava rir. Amava fazer rir. E amava cada um que estava ali.
Quel disse que a próxima música deveria ser “Escrito nas Estrelas”, saudando sua absoluta falta de senso ao encarnar Tetê Spíndola, qualquer hora, qualquer lugar. Bastou isto, as sugestões começaram, Ovelha Negra! O bêbado e a Equilibrista! Como nossos pais! Pais e filhos!  Metamorfose Ambulante! Leãozinho! “Companheiro é Companheiro não pode faltar”, emendou o irmão mais novo.
Histórias com a falecida começaram a surgir, todas faziam rir. Todas traziam alegria. 


O telefone de Paulinha tocou, chamada de vídeo do Gaúcho que, de plantão, não pudera viajar. Queria falar com a avó, com os tios, queria ver a sogra em sua despedida. No telefone da matriarca, chamada de vídeo das tias em Jataí, que também queriam se despedir da sobrinha mais velha. Primos chamaram os três irmãos, Carol em conexão com Analice, de repente lives em todos os telefones, família e amigos de alhures querendo se despedir. Como mágica as pessoas estavam leves.  A cerveja chegou. Dila também – trazendo uísque e vodca. O velório se tornou uma festa, como aquelas que Lu tanto curtia, seus amados de todas as tribos e épocas reunidos.
Quando o corpo saiu para o crematório, um passante perguntou quem era a celebridade que ia ali, ao som de Daniela, "a cor dessa cidade sou eu, o canto dessa cidade é meu..."
Para todo o tempo se lembrariam: nunca houve um velório tão inusitado como aquele. Ela, que amava uma novidade tecnológica e foi pioneira de ICQ e Orkut, evoluindo até Telegram e Instagram, teria amado.
E todos sabiam, no mais profundo de seus corações, que partiu no mesmo clima, feliz. E que,  qualquer fosse seu destino, se tornaria uma festa - porque era isto o que ela fazia melhor.

 

(Exercício de prática de criação de texto, Fortaleza, agosto/2020)

terça-feira, 14 de julho de 2020

Pandemia - dia qual?

Tem sido tempos inusitados.
Sombrios para alguns, dolorosos para outros, angustiantes para tantos mais.
O certo é que não são inertes, tampouco plácidos, estes tempos.
Há muita coisa borbulhando, e muito disto evanescerá assim que vier à tona.
Há pessoas produzindo conteúdo, pessoas estudando, pessoas malhando em casa, pessoas cozinhando - parece que todo mundo se apaixonou por fermentação natural! Pessoas iniciam projetos, desengavetam projetos, descartam projetos, engavetam projetos, alteram projetos.
Há um certo frenesi em mostrar o que se faz, em oferecer apoio, em buscar atenção, uma ânsia por … o quê mesmo?  Confesso: estou com certo cansaço disto. Ranço.  É muita informação, muito conteúdo, muito vídeo, muita comida, muito artesanato, muito diy, muito texto, muita coisa pra ler, se inteirar, socorro. É muito.
Meu dia só tem 24 horas – mesmo.  Grande parte dele dedicado ao ócio – nem sempre criativo. Considerando nove horas dedicadas ao banco, entre ida, vinda, intervalo e trabalho efetivo, sobram quinze. Destas, o sono consome de cinco a seis. As nove restantes? Divido entre séries, jogos, músicas, livros e... redes sociais. Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp, Telegram, Linkedin, Pinterest. Emails. Socorro. Socorro.
Contei os grupos de wtsp dos quais participo: de família são seis. Trabalho, nove. Amigos, dez. Um aleatório da galera que arrisca na megasena todo mês, um de meditação e um de pessoas de esquerda que resistem na capital fascista do país. São vinte e oito. Vin-te-e-oi-to-gru-pos-de-u-á-ti-zap.  Isto que já saí de, pelo menos, uns dez ou doze aleatórios.
Não a toa, às vezes surto.
Não à toa, às vezes “esqueço” o celular no trabalho.
Não à toa, todos os dias penso em sair de mais uns tantos grupos ae.
Comunicação - diz meu número de destino que, coincidentemente, é também o de expressão, o três: minhas oportunidades na vida serão sempre onde eu possa expressar minha criatividade e minhas emoções.
Confesso: é um momento em que está complicado me comunicar.
E expressar o que quer que seja. 

sábado, 11 de maio de 2019

Breve interlúdio amoroso

 Não tiramos nenhuma foto juntos."
"Verdade", ela concordou.
Também não pensou em tirar uma ali, naquele momento.
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Hoje, no mercado, a presença era toda dele.
Antes, deitada na rede, olhando o mar, também.
"Você já fez Amor numa rede?"
"Não. E você?"
Poderiam ter feito ali, naquele instante.
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Seu sorriso lindo, a ruga entre os olhos, o jeitinho de piscar, a delicadeza, as conversas, o fôlego, hehehe.
A toda hora uma lembrança - e uma saudade, já - a surpreendem.
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Quando se cria memórias, ela sabe, fotos são desnecessárias.
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terça-feira, 17 de abril de 2018

Por mais Malus e Celsos no mundo.


Foi por causa deste cartaz, no caminho entre o consultório e minha casa, que voltei e entrei na banca de revistas.
E tive o prazer de conhecer a Malu e o Celso, que estão ali há 34 anos - dos quais, 32 sem férias. Abrindo as portas 363 dias no ano, sendo as exceções a sexta-feira santa, o natal e o ano novo.
Enquanto estou lá, conversando com eles, um  dos clientes busca figurinha da copa - e penso que este casal fantástico, de energia boa e sorriso fácil, vendeu figurinhas de oito copas. É muito tempo!
Vão fechar porque o movimento já não é o mesmo, a segurança muito menos: nos primeiros 32 anos nunca sofreram sequer um assalto, nos últimos dois foram vítimas de quatro. Também querem curtir o netinho que chega em novembro.
E porque colocaram o cartaz?
"Em todo este tempo não fizemos apenas clientes, sim amigos. Temos clientes que vimos crescer, imagina! E não dá pra simplesmente fechar, é nossa história."
Achei isto de uma lindeza inenarrável.
Eles se importam. Apenas se importam - não terão mais vantagens ou  lucros com os clientes, pois fecharão as portas. Mas se importam.
O mundo precisa de mais Malus e Celsos.

domingo, 26 de novembro de 2017

Ex.tra.or.di.ná.rio

Ela recebeu a missão de escrever sobre sua vida extraordinária.
Pra ter certeza de que fará certo, busca o velho amigo Michaelis - que complica um pouquinho sua vida, como assim dez significados???

Tá.
Faz uma intro-retrospectiva e resolve que será mais fácil falar de fatos que a trouxeram are aqui por itens.


- É a filha mais velha de quatro irmãos, e foi a primeira neta, tanto do lado materno quanto paterno. Isto definiu muito de sua personalidade.
- Cresceu passando as férias em fazenda: chupou manga no pé, construiu cabanas, subia em árvores, aprendeu a fazer polvilho e doces caseiros.
- Ainda muito pequena caiu de uma "pinguela" em um rio - e saiu toda faceira, contando pra mãe que tinha "nadado" sozinha.
- Fez polvilho, doces caseiros, linguiça artesanal.
- Aos doze anos matou sozinha, a pauladas, uma cobra coral. E depois passou dias tendo pesadelos, olhando a noite fora das paredes de pau a pique do quarto em que dormia nas férias.
- Não tinha medo: foi a única menina a caçar, junto com os meninos, um rato incauto que apareceu na sala de aula.
- Fazia parte da galera que, no terceiro bimestre, já tinha fechado às notas da escola. E faltava a aula no quarto bimestre para ir ao clube, aproveitar a piscina.
- Debutou, aos quinze anos, no primeiro baile do Floresta Clube - e ainda ganhou presentes pra isto.
- Foi oradora da turma de formatura do segundo grau - uau!!!
- Ministrou aulas no extinto Mobral, alfabetizando adultos, quando tinha dezessete anos.
- Passou nos dois vestibulares que fez, e escolheu a Federal em detrimento da Estadual.
- Nunca sonhou com casamento ou casa própria - sim com viajar e desbravar o mundo.
- Foi pedida em casamento quatro vezes, mas casou com o melhor amigo - que tinha virado namorado. Porque estava grávida. E parou a faculdade por isto.
- Gerou quatro filhos, mas um é uma estrelinha no céu.
- Terminou o curso levando as filhas pequenas pra assistir aula com ela, numa das salas da Santos Andrade.
- Fez curso de corte e costura para costurar para as filhas pequenas.
- Fez artesanato, ama cozinhar, adora contar histórias. Gosta de escrever, mas nunca publicou nada - a não ser textos numa coluna semanal do jornal em que a filha trabalhava.
- Teve um texto escolhido para publicação - e leitura pública - numa edição especial da Fundação Cultural de Curitiba.
- Viajou de carona algumas vezes, em época pré bla-bla-car, quando se ia pra estrada com o dedão levantado é uma plaquinha dizendo o destino.
- Participou de um rally com os irmãos, que são seus melhores amigos.
- Morou numa ilha - ama o Mar.
- Trabalhou com projetos culturais, sua paixão, numa Fundação municipal. Trocou pela segurança da carreira de uma estatal. Chegou à função gerencial, mas decidiu ser delegada sindical.
- Viajou sozinha, algumas vezes, numa moto de 150 cilindradas.
- Viveu alguns amores, sofreu e fez sofrer.
- Acredita, sempre, no lado bom das Pessoas.
- Tem muitos Amigos. A maioria, há décadas.
- Escreveu, com o filho, a história de um anjo de asa quebrada. O filho tinha seis anos.
- Gosta de escrever cartas para as Pessoas que ama.




domingo, 13 de agosto de 2017

Sobre aniversários - e a brevidade de existir

Estava tudo pronto pra passar o fim de semana do meu aniversário - e dia dos pais - na praia, casa de uma querida amiga.
Porque sim, sou destas que ligam e dizem "ei, Amiga, gostaria de comemorar meu aniversário na praia, pode me hospedar? E não, não vou só: levo filha, irmãos, cunhadas, sobrinhos."
Em minha defesa o fato de que só sou assim porque sempre tem os malucos que dizem "vem, Amiga, você é sua família são muito bem vindos".
Estava tudo pronto, malas, compras, irmãos, quando o telefone toca às seis da manhã: "Amiga, tenho uma notícia horrível: meu irmão morreu".

Claro, não fomos para a praia.
Eu queria descer, estar com ela neste momento terrível - mas o irmão, vindo de São Paulo, pedia minha presença. Assim, passei o fim de semana dividida entre a alegria de estar com meus irmãos e a tristeza de saber que minha queridamiga velava o seu.
Não consigo sequer imaginar sua dor - só de tentar, meu coração fica pequenino e dói, dói, dói. Terrivelmente.
Orei muito pedindo força e paz para ela e toda sua família, que possam passar por este momento da forma menos dolorosa possível.

E me peguei pensando, a todo instante, no quanto a Vida é breve, afinal.
Olhava os sobrinhos, os irmãos, as cunhadas, a filha e pensava em como devemos aproveitar cada momento junto àqueles que amamos, em como devemos ser perdulários em abraços, em beijos, em carinho e declarações de Amor.

Meu quinquagésimo terceiro ano chegou com a certeza de que quero mais e sempre estar com quem amo, porque é tudo o que importa. Porque a Vida é breve, mas o Amor eterno. E vale vivê-lo da melhor maneira enquanto podemos.

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quinta-feira, 25 de maio de 2017

Um detalhe quase original

Quase na virada do século - ops, do milênio - ela teve uma ideia genial para complemento de renda: uma empresa de telemensagens.
Detalhe Original, o nome.
Original, quando este era o negócio que pipocava em cada esquina?
Original, sim. Em sua concepção e execução.
O cliente ligava solicitando o serviço. Contava sua história com o homenageado: um fato específico, uma característica especial, algo único que gostaria de dizer. Com estas informações, era escrito um texto personalizado para aprovação. Que era lido em tempo real, com música de fundo específica escolhida para aquela mensagem especial.
Lembremos que eram tempos pré Google: necessário ter o aparelho de CD e a mídia com a música escolhida. Não, não era fácil. A vantagem é que o serviço custava cerca de 30% a mais do que as mensagens padrões com textos padrões e vozes melosamente padronizadas.
Tá, tudo bem.
Estas mensagens também acabavam por seguir certo padrão, também melosamente piegas. Ah, a gente tá falando de sentimentos, né? Pai, mãe, amores, não dá pra fugir de clichês.
Havia ainda a parte de mensagens ao vivo e a cores, senhoras e senhores. Com direito a fantasia e o escambau - o que é um capítulo à parte.
Completavam o cast da empresa, além de Mônica, amiga/sócia, os filhos. Que faziam desde panfletagem até criação e execução - viva a veia artística familiar!!!
Ela se orgulha muito da criatividade dos filhos.

Corta para domingo, nove de maio de 2017, dia das mães.
Ela está em casa, sozinha, se arrumando para almoçar com as filhas - o filho não pôde vir este ano. O telefone FIXO toca e ela se assusta. Será o Moacir Franco oferecendo plano funerário em pleno domingo de dia das mães? Mas ela lembra que uma das tias não migrou pra o universo móvel, e atende meio desconfiada, "alô?".

"Bom dia! Posso falar com Lucemary, por gentileza?"
"Quem quer falar?"
"Meu nome é Mônica, sou da telemensagem "Detalhe Quase Original" e tenho uma mensagem para ela".
A gargalhada pode ser ouvida no apartamento de baixo, e mal consegue falar, chorando de rir com a pegadinha muito bem sacada - que acabou sendo mais do que isto, obviamente.
Ao som de Kenny G - de longe o mais escolhido pelos clientes à época da empresa - seguiu-se uma mensagem original e, claro, piegas. Que a fez alternar entre o pranto e o riso, e se sentir originalmente especial.
Maya acordou sem saber bem como comemorar de forma marcante este dia e, numa sacada não menos do que genial, escreveu um texto lindo que foi lido pela colega do apartamento - coincidentemente, Mônica.
E trouxe de volta memórias indescritíveis de um tempo tão gostoso.
Viva a veia artística familiar!!!!
Ela é muito feliz pela criatividade - e senso de humor - dos filhos.


domingo, 27 de março de 2016

Sinais

É domingo.

Páscoa: renascimento, renovação.

Céu azul na cidade cinza.

Esperança no coração.